Parco conhecimento de aritimética eventualmente leva as pessoas a escrever uma trilogia em quatro partes, e eventualmente expandir para cinco volumes. É esta a resposta para a terceira pergunta mais importante sobre a série “The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy”, que começou como um programa de rádio, virou livro, passou pelo videogame e finalmente chega í s telas de cinema. A resposta para a pergunta mais importante eu não vou dar aqui, não quero adiantar o que acontece. Já a resposta para a segunta pergunta mais importante, pelo menos para mim, essa eu posso contar: sim, obrigado.
“O Guia do Mochileiro das Galáxias” tem edição nacional pela editora Sextante, e o segundo livro da “trilogia” também já pode ser encontrado das prateleiras da livraria mais próxima. Mas se você terminar de ler “O Restaurante no Fim do Universo” e quiser saber como continua a história, não entre em pânico, com toda a promoção que a série ganhou no Brasil com o lançamento do filme, “A Vida, o Universo e Tudo mais” está programado para ser lançado no dia 2 de junho, e em breve “Até mais, e obrigado pelos peixes” deve aparecer por aqui também.
Se você não conhece nada da história, saiba que basicamente é assim que funciona: Arthur Dent, inglês, tem sua casa destruída para a construção de uma via expressa. Mas seu amigo Ford Prefect lhe mostra que não há problema nenhum nisso, já que o próprio planeta Terra também vai ser destruído de qualquer forma para a construção de uma via expressa intergalática. No fim das contas, a casa de Dent ia ser destruída de uma forma ou de outra.
Os dois escapam da demolição (do planeta, não da casa) pegando carona em uma das naves Vogons responsáveis pelo serviço, e a partir daí o terráqueo começa a conhecer o resto do universo, entendendo cada vez menos sobre o que está acontecendo a medida que o tempo passa.
Douglas Adams, autor da série e falecido em 2001, 49 anos e vítima de um ataque cardíaco, teve a sua parcela de contribuição com a cultura pop. O famoso site de tradução da Altavista, o Babelfish presta uma homenagem ao seu homônimo literário, que ao ser enfiado no ouvido traduz tudo que a pessoa está ouvindo. A música Paranoid Android, do Radiohead, é uma referência a um dos mais marcantes personagens da história, o robô Marvin, cujo lema é “Vida, odeie ou ignore, você não pode gostar dela”. O próprio livro já aparecia em formato digital muito antes dessa onde de PDFs, figurinha fácil em formato texto nos primórdios da internet e antes da popularização de programas de compartilhamento de arquivos.
Uma coisa que preciso admitir é que, no começo, demorei para engrenar na leitura. O estilo de Adams lembra muito uma esquete de Monty Python, comentários inesperados, situações inusitadas, referências completamente inúteis ao desenrolar da trama aparecendo de uma hora para a outra. Mas a medida que as páginas avançam, é exatamente isso que faz do livro uma experiência única e hilária. Constantemente somos remetidos a um verbete do tal Guia dos Mochileiros, uma espécie de enciclopédia eletrônica que pode te dizer tudo que você precisa saber sobre qualquer coisa. É nela que descobrimos a história do planeta Magrathea, para onde supostamente vão todas as canetas esferográficas que perdemos e que o departamento de marketing da Companhia Cibernética Sirius é “uma cambada de panacas que devem ser os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourar”.
Eu percebi que tinha sido fisgado há muitas páginas antes quando desandei a gargalhar sozinho depois que um míssil se transforma em baleia e somos agraciados com o que se passa em sua mente do momento em que percebe sua nova forma até se espatifar no solo do planeta que orbitava.
Mas peço agora licença a vocês pois tem um pessoal me esperando no restaurante do fim do universo e eu não gosto de deixá-los esperando. Quando eu voltar prometo que conto pra vocês o que aconteceu por lá.