O Príncipe dos Demônios está de volta, desta vez mereceu capa. Demogorgon é a criatura de maior nível no recém-lançado Monster Manual 2, que trouxe para a nova edição outros velhos conhecidos.
Demogorgon apareceu pela primeira vez em sua versão RPGística no suplemento Eldritch Wizardry, publicado em 1976 para a versão original do D&D. Livremente inspirado em um demônio citado por estudiosos católicos e mencionado por Milton em Paraíso Perdido, este habitante da 88a camada do Abismo sempre esteve presente em todas as edições do jogo, e mantendo sua inimizade com Orcus afiada, não poderia deixar barato o destaque dado ao seu maior oponente no Monster Manual 1.
São nove páginas dedicadas a ele, seus lacaios e aliados, incluindo outros pesos pesados como Dagon, o primeiro dos lordes demônio a aparecer no Abismo. Dada a quantidade de material presente, toda uma campanha pode ser desenvolvida tendo como Demogorgon o principal oponente.
Isso é algo recorrente nas novas versões dos manuais de monstros do D&D, muita informação suplementar relevante sobre os monstros e criaturas que ajudam o mestre a ter idéias para aventuras. O livro nos conta, por exemplo, que a religião dos Firbolgs gira em volta de 3 deuses, a Dama, a Mãe e a Bruxa, e que normalmente as mulheres é que cuidam dos cultos e rituais. Aliado aos encontros pré-fabricados e táticas de combate detalhadas para cada criatura, a vida do mestre de jogo fica bem mais fácil caso não disponha de muito tempo para preparar sua aventura.
Outro ponto positivo é a volta de alguns monstros clássicos que estavam faltando nas mangas dos mestres. Se você sentia falta do Golem de Ferro ou do Monstro Ferrugem, este é o livro que estava procurando.
O Monstro Ferrugem é um caso digno de nota. Como podemos bem lembrar, sua principal característica era transformar em pó as armas e armaduras mágicas dos aventureiros. Nas edições anteriores isso acontecia sem dó nem piedade, problema do mestre se quisesse aguentar o jogador reclamando no seu ouvido por sessões sem fim. Os designers dessa vez foram mais caridosos, e dedicaram uma polpuda parte da página a esse problema, um guia de como se usar a criatura. Ensina como contornar a perda dos itens mágicos, e até mesmo lidar com jogadores espertos que queiram se aproveitar do monstro para lucrar com itens mágicos sem utilidade, já que a regra dita que no estômago da criatura há residuum o suficiente para pagar o valor do item consumido. Para quem não sabe, residuum é uma espécie de pó usado para fabricar os próprios itens mágicos.
Chacoalhando a minha caixa de miniaturas, resquício da época em que jogava D&D Minis, dá pra ver que muitas das criaturas inventadas para aquele jogo encontraram o caminho da nova edição. Talvez para dar uma utilidade a todas os milhões de Nothics e Wood Woads de plástico que existem hoje no mundo. Fora todas as outras miniaturas comuns que também estão representadas no livro.
Uma surpresa foi não encontrar os bons e velhos dragões de Latão e Bronze, substituídos pelos metais Ferro e Adamantine. Talvez por acharem que Cobre, Bronze e Latão eram muito parecidos uns com os outros e preferiram dar uma variada nos materiais. Tomara que na próxima versão do Draconomicon, dedicada aos dragões metálicos, essa situação seja remediada.
Dois grupos de criaturas novas chamaram bastante a minha atenção, provavelmente por se encaixarem muito bem nas aventuras que estou mestrando ultimamente. O primeiro deles são os Fell Taints, horrores meio Lovecraftianos que se alimentam da sanidade de suas vítimas. Voltados para níveis mais baixos, são bem perigosos se conseguem incapacitar seus oponentes. Para níveis mais altos temos os Star Spawns. Basta citar a primeira frase da descrição: “Warlocks e sábios sabem que quando alguém olha para as estrelas, algumas olham de volta famintas”.
Uma decepção é a reutilização de algumas ilustrações antigas da 3a edição. Para um projeto gráfico tão cuidadoso esperava 100% de imagens inéditas, principalmente por já estarmos bem adiante no cronograma de publicações. Será que a crise fez a WotC apertar o orçamento do departamento de arte?