Joe Madureira é conhecido no meio artístico por ser um profissional preguiçoso. Eu também seria, se ganhasse o que ele ganha por cada capa que rabisca. E que rabiscos. Pioneiro de um dos gêneros de desenho mais badalados no mundo das histórias em quadrinhos de super-heróis nos últimos anos, uma mistura do mangá de poses exageradas com uma certa pitada de traços infantis e inocentes, descobriu os quadrinos quando tinha 7 anos de idade, e passou fome na escola ao economizar o dinheiro do lanche para comprar revistas.
Como pizza sempre pede guaraná, logo sua garagem se transformou em um portal para outras dimensões, ele e seus amigos atraídos pelo tal do Dungeons & Dragons. Seus cadernos foram preenchidos por dragões, unicórnios e personagens fantásticos (quem não gostaria de ter seu personagem ilustrado por ele?) durante toda a década de 80. Mesmo após ter parado de rolar dados não conseguia parar de desenhar feiticeiros e espadachins, mesmo tentando a todo custo fazer um homem-aranha. Claro que este lapso foi logo curado, e após um estágio na Marvel Comics ao lado de seus ídolos John Romita e Jim Lee, virou o ás dos quadrinhos que é hoje.
Para quem não conhece seu portfólio, desenhou Uncanny X-Men por muito tempo, criando o visual de Blink e de vários personagens da Era de Apocalipse. O brasileiro Roger Cruz muitas vezes foi injustamente acusado de copiar o estilo de Madureira descaradamente, e mereceu até mesmo uma alfinetada do próprio Joe em uma de suas revistas, onde no canto de um quadrinho de página inteira que saltava aos olhos de qualquer um mandou o singelo desafio: copie isto, Roger!
Rico, feliz, dono do próprio nariz, resolveu se dedicar a seus próprios projetos. A primeira coisa que lhe veio í mente foi o desejo de infância de criara uma história em quadrinhos baseada em Dungeons & Dragons. Finalmente, após imensa introdução, surge a razão deste verborrágico artigo: a série Battle Chasers.
Gully, Calibretto, Knolan e Garrison. A primeira filha do maior herói dos reinos humanos. O segundo um dos últimos Wargolens remanescentes de uma terrível guerra. O terceiro um poderoso feiticeiro com mais de 500 anos de idade. O quarto o maior espadachim de todos os tempos. Vivendo em um mundo onde a tecnologia e a magia convivem lado a lado, se vêem envolvidos em uma perigosa trama que teve início com o desaparecimento do pai de Gully.
Extremamente bem desenhada, a série possui todos os elementos de uma ótima aventura de RPG. Lobisomens, demônios, maldições, armas mágicas, tudo amarrado por uma história empolgante e excitante. Os desenhos de Madureira estão fenomenais, e transmitem exatamente a sensação de fascínio e deslumbramento que o imaginário de gerações de jogadores sempre esperaram ver realizadas em histórias em quadrinhos.
Na introdução da edição encadernada dos primeiros 5 volumes da série, o desenhista admite que foi desencorajado por todos quando expunha sua idéia de uma série de quadrinhos de fantasia. Diziam que este gênero não teria sucesso no mercado de hoje. Tolinhos. Mal sabiam eles das hordas de jogadores de D&D que imediatamente se identificaram com a nova revista e a transformaram em um sucesso de vendas.
Infelizmente, como disse na abertura deste texto, a preguiça de seu criador faz com que as aventuras destes quatro caçadores de batalhas demorem meses e meses para ter prosseguimento. A série ainda não conseguiu alcançar seu décimo exemplar, mesmo tendo seu primeiro volume lançado há mais de 3 anos. Eventualmente podemos ver promessas de uma nova edição no site oficial de Madureira. Mas a julgar por algumas das perguntas do feitas a ele e respondidas em seu FAQ, é melhor esperar sentado, porque em pé deve cansar muito.
Resta a nós, fãs ávidos por novas aventuras de Gully e companhia, ter paciência com o cara e torcer para ele levantar da rede e sentar na prancheta com mais freqüência.