Alguns anos atrás, a Dark Horse começou a lançar uma série de antologias em capa dura que não despertaram nenhum interesse em mim. Na minha opinião, os editores estavam se tentando se aproveitar dos fãs de Hellboy (que estavam famintos por material novo naquela época) juntando um curto e pouco empolgante conto do garoto vermelho criado por Mike Mignola a um monte de outras contribuições diversas. Minha lógica era a seguinte: eles eventualmente iriam juntar todas essa historinhas em uma graphic novel no futuro, então não era necessário me envolver com esse… me atrevo a dizer: embuste.
Recentemente devorei a nova série em duas partes do Hellboy, “The Island”; vaguei pelas diversas minisséries do BPRD, que acabam sendo encheção de linguiça entre os arcos de história de Hellboy; e fui ao cinema assistir ao filme meia bomba. Como um antigo fã de Hellboy, eu queria ler mais. Com a notícia de que Mignola está deixando de ilustrar Hellboy em favor do artista Lee Bermejo, que foi escolhido a dedo, qualquer coisa escrita e desenhada por seu criador será raramente vista novamente. Mesmo com Mignola escrevendo, nenhum artista conseguirá jamais replicar suas profundas sombras, os angulosos queixos e a atmosfera pela qual Hellboy ficou conhecido. Com nada novo de Hellboy como os fãs o conhecem hoje (pelo menos por algum tempo), eu cedi, engoli meu orgulho e mergulhei em “The Dark Horse Book of Hauntings” por um pequeno gostinho de algo que nunca poderá ser imitado.
Não demorou muito para que eu percebesse que tomei a decisão correta. Na verdade, foram as duas primeiras frases da introdução de Scott Allie (editor desta revista, e de Hellboy há bastante tempo) que me conquistaram. Ele criou a atmosfera certa para a coletânea, e me ajudou a abrir a imaginação para histórias de fantasmas e espíritos. Seus relatos das esperiências de infância com fantasmas trouxeram de volta minhas próprias memórias – os fantasmas que pareciam me seguir na juventude, os sonhos ruins que não conseguia esquecer e os macacos que esperavam atrás da porta enquanto eu tentava cair no sono. É um livro sobre assombrações e me foi prometido histórias de gelar a espinha.
A história de Mike Richardson e P. Craig Russell começou bem a edição. O conto segue dois jovens em uma aventura a uma casa mal-assombrada, e o conflito sobre quem não se mostraria covarde e entraria na propriedade abandonada logo se tornou seu foco. “Gone”, apesar de curta, se provou uma das melhores histórias da antologia.
Outros autores famosos também aparecem nessa coletânea. Jill Thompson ilustra uma singela história sobre uma casinha de cachorro assombrada escrita por Evan Dorkin. Paul Chadwick, Gary Gianni e Paul Lee ilustram outras histórias. Uli Oesterle escreve e ilustra “Forever”, uma singular história de 8 páginas sobre a vingança de uma tatuagem. Como a maioria das antologias, as histórias raramente tem tempo de se desenvolver propriamente, o que se mostra uma fraqueza; mas, “The Dark Horse Book of Hauntings” faz um bom trabalho em atrair talentos estabelecidos que sabem o que é preciso para se fazer de algo curto uma coisa que vale a pena.
Sobre a aventura do Hellboy, “Dr. Carp’s Experiment”, passou dolorosamente rápida – levou segundos para se ler, com minutos adicionais para dissecar o forte texto. É leve na trama e no desenvolvimento, mas como a maior parte do trabalho curto de Mignola, oferece uma oportunidade de se pensar e quilos de entretenimento. O conto apresenta uma casa assombrada, primatas enraivecidos e contribui algo previamente desconhecido sobre o personagem.
“The Dark Horse Book of Hauntings” inclui uma pequena longa narrativa de Perceval Landon para ajudar a dar peso í antologia e, alguns podem alegar, legitimicidade. Além disso, Scott Allie entrevista um médium, L.L. Dreller. Dreller, praticante na First Spiritual Science Church explica alguns “fatos” interessantes sobre o mundo dos espíritos e a relação entre humanos e espíritos, incluindo como podemos “criar nossa própria realidade com nossos próprios pensamentos”.
Esta coletânea pode ser uma pobre desculpa para se publicar um livro inteiro no lugar de uma história curta pelos maiores talentos da Dark Horse; mas funciona. As histórias, porém, não são verdadeiramente assutadoras; elas são charmosas, e bonitinhas. Eu há muito imaginava o gênero do horror morto, mas a Dark Horse nos mostra que histórias interessantes ainda podem ser contadas no gênero.
Por Dana Tillusz
Publicado originalmente no site Comic Readers